Um desejo compartilhado por um casal catarinense há décadas está prestes a completar seu primeiro ano de concretização. No mês dedicado à adoção, Fabrício e Neusa comemoram a recém-constituída família após a adoção de três crianças – irmãos de cinco, oito e 12 anos. A saga para realizar esse sonho começou com uma viagem virtual pelas páginas do Busca Ativa e terminou com um pai e uma mãe de coração encontrando os filhos depois de cruzar várias fronteiras. Os futuros filhos aguardavam pelos pais a mais de dois mil quilômetros de distância, no nordeste brasileiro. Com quase 20 anos de casados e vida profissional estabilizada – ele chefe da secretaria do foro da comarca de Joinville e ela servidora pública municipal –, Fabrício e Neusa tornaram-se pais por meio da adoção. Para isso, realizaram todas as etapas do processo na comarca de Araquari, onde residem, e ingressaram no Cadastro Nacional. Os irmãos estavam inseridos no Busca Ativa – cadastro que apresenta crianças com características de desinteresse, especialmente pela idade, cor da pele, por ser de grupo de irmãos ou por apresentar alguma patologia – e foi assim, por meio de um clique, que Fabrício visualizou pela primeira vez o filho mais velho e teve a certeza de que era por ele que procurava. “Um dia, navegando pelo sistema, olhei meu filho e soube que era ele que tanto desejávamos. Em seguida, percebi que ele não estava sozinho, havia outros dois meninos. Me apaixonei na hora e mandei mensagem para minha esposa, que não estava em casa. Imediatamente ela voltou e, ao olhar os meninos, emocionadamente falou: 'São eles!'. Sem pensar, fizemos a opção pelo sistema e então tudo aconteceu de forma muito rápida”, relembra. Depois de demonstrarem interesse nas crianças, houve os primeiros contatos por videochamada. Foram duas conversas intermediadas pela assistente social e finalmente a tão aguardada autorização para o encontro presencial. Ansiosos, os pretendentes enfrentaram uma jornada de dois dias de viagem de carro, quase sem descanso, até o sul da Bahia, tudo por três longos e inesquecíveis abraços. “Encontramos três meninos tímidos, curiosos e cheios de esperança. O que era para ser apenas um fim de semana estendeu-se para quase 20 dias. Período dedicado a passeios, interação e conversas, com a certeza cada vez maior de que nossa família se encontrara. Então não podíamos ir embora. Não conseguíamos nos separar deles, e eles temiam que não retornássemos mais. Deste modo, a Justiça da Bahia e o Ministério Público, com toda a sensibilidade, após ouvir os profissionais envolvidos (assistente social, psicóloga), além dos meninos, atendeu ao nosso pedido e autorizou que o estágio de convivência acontecesse em nossa casa, aqui em Santa Catarina”, conta Neusa. Atualmente, com a adoção concretizada, o casal Matiola comemora que os filhos do coração, amados desde o primeiro contato via internet, são agora também filhos de pleno direito. Ao relembrar o caminho trilhado, Fabrício e Neusa reconhecem que tiveram altos e baixos, porém o balanço é infinitamente positivo. “A adaptação foi maravilhosa! Não que não tenhamos passado pequenos momentos de aflição, mas foi incrível. Isso porque eles nos adotaram também, então houve um encontro de vontades. Nós estávamos dispostos a amar e eles abertos a receber amor. Adotar não é caridade, é ato de amor”, ressalta Fabrício. E Neusa complementa: “O significado da vida mudou. A motivação para levantar todos os dias é outra, é um amor que transforma, que muda o sentido da vida. Tudo gira em torno deles. Para quem pensa em adotar, eu digo que não desista, pois a vida pode surpreendê-lo por meio da criança que hoje está em um lar esperando o seu colo, o seu carinho, o seu amor. Tudo o que for por eles voltará em forma de afeto, e isso é maravilhoso”, finaliza.