A Revista FORBS trouxe essa matéria espetacular, enaltecendo o trabalho excepcional do meu amigo, Secretário da Ciência e Tecnologia Marcelo Fett e seu adjunto, o ex prefeito de Brusque, e particular Amigo, Roberto Pedro Prudêncio. Parabéns por elevar o nome de Santa Catarina e mostrar ao mundo que aqui estamos avançando consideravelmente no setor da ciência e Tecnologia.
Santa Catarina, localizada no sul do Brasil, faz questão de elevar sua posição no cenário de inovação do país, alavancando fatores únicos que diferenciam o estado dos demais. O epicentro do cenário de inovação do estado é sua capital Florianópolis, conhecida por ter a maior densidade de startups per capita do Brasil. Com uma população de apenas 500.000 habitantes, a cidade emergiu como a força motriz por trás do surto tecnológico do estado, concentrando-se predominantemente em modelos B2B, onde as empresas projetam sistemas para outras organizações em vez de consumidores finais.
Florianópolis foi o berço de empreendimentos de sucesso que passaram por alguns dos maiores negócios de fusões e aquisições do Brasil, como a RD Station, empresa de marketing digital adquirida pela gigante do software Totvs, e a Neoway, empresa de big data comprada pela B3 – ambas por cerca de US$ 340 milhões em 2021. Além dessas, o estado abriga empresas de tecnologia estabelecidas antes do boom das startups e também abriga empresas emergentes e gigantes globais como Mercado Livre, Zoho e Zucchetti.
"Diante de seus desafios, como a falta de reservas significativas de petróleo ou minerais e a ausência de vastas terras agrícolas, aliadas a adversidades naturais como secas, enchentes e furacões, Santa Catarina teve que se virar em direção a uma base econômica alternativa para garantir o crescimento", disse Marcelo Fett, veterano do setor e primeiro secretário de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina juntamente com seu adjunto Roberto Pedro Prudêncio, ambos vem inovando no setor cientifico e tecnológico no Estado Catarinense.
A criação da secretaria apoia o objetivo coletivo do ecossistema catarinense de acelerar a indústria de tecnologia do estado, que atualmente é composta por 22.125 empresas de tecnologia com um faturamento combinado de aproximadamente US$ 4,5 bilhões, representando 6% do PIB do estado. Isso posiciona Santa Catarina como o sexto maior polo de tecnologia do Brasil.
A meta agora é dobrar essa contribuição até 2026 por meio de medidas como concessão de crédito para empreendedores, ampliação de empréstimos estudantis e incentivos financeiros para empreendimentos de fomento à pesquisa no estado, com detalhes a serem revelados ainda este ano. "[Santa Catarina] é um estado que tem muita coisa pela frente, principalmente quando o assunto é tecnologia, e precisa de modernização para ir ainda mais longe", disse o governador do estado, Jorginho Mello.
Prosperando na escassez
Iomani Engelmann, presidente da associação local de tecnologia ACATE e CEO da health tech Pixeon, atribui o crescente apelo do cenário tecnológico local à trajetória histórica e cultural de Santa Catarina, já que uma parcela significativa da população catarinense tem herança italiana, alemã ou portuguesa.
Inerentemente arriscadores em suas vidas pessoais, os imigrantes contribuíram para o espírito empreendedor local, disse Engelmann, acrescentando que sua disposição para assumir riscos, combinada com a escassez de oportunidades enraizadas na cultura local, catalisou a criação de inúmeras startups. "Somos um Estado formado por imigrantes, que dependiam da assistência mútua para sobreviver. Isso naturalmente fomenta o empreendedorismo e a associação, gerando resultados tangíveis", observou.
Outro dos principais motivos pelos quais o ecossistema de tecnologia em Santa Catarina é tão significativo em comparação ao seu PIB é a escassez, segundo Rafael Assunção, sócio da Questum, de Florianópolis.
"O estado tem um número limitado de empregos corporativos, especialmente em comparação com estados como São Paulo ou Rio. Além disso, há universidades de primeira linha que produzem um pool de talentos, que não necessariamente é absorvido por grandes corporações", disse Assunção, acrescentando que esse cenário resulta em uma situação única: com oportunidades limitadas, o empreendedorismo se torna um dos poucos caminhos viáveis.
Assunção traça um paralelo entre Santa Catarina e Israel, enfatizando como as restrições podem impulsionar a inovação. "Ambos os lugares, embora distintos por natureza, são marcados por uma escassez de recursos, obrigando os indivíduos a pensar fora da caixa", apontou o investidor.
Esse ecossistema de escassez em Santa Catarina e a falta de um grande mercado consumidor têm fomentado a proliferação de startups B2B. Essas empresas tendem a ser mais eficientes em termos de capital e centradas no cliente: em vez de depender de grandes somas de capital externo, essas startups se concentram na criação de valor real para os clientes. "Esse conjunto de características torna [as startups locais] particularmente atrativas para investidores e parceiros estratégicos, pois trazem soluções que foram testadas e validadas no mercado", observou Assunção.
Quando questionada sobre setores específicos com alto potencial de crescimento, Assunção apontou para fintechs e retail techs. "Esses setores estão preparados para se beneficiar das novas tecnologias, especialmente com a atual onda de inovação em torno da inteligência artificial. Eles lidam com grandes volumes transacionais e dados, atendendo a consumidores cada vez mais ávidos por experiências personalizadas", disse.
Preparando-se para um mercado global
A próxima fronteira para o setor de tecnologia de Santa Catarina, segundo Engelmann, da ACATE, é o alcance global. "Estamos bem posicionados e é hora de agitar nossa bandeira internacionalmente, mostrando que a expansão global é parte integrante da jornada dos empreendedores locais", ressaltou.
As startups catarinenses já começaram a se destacar globalmente. Entre elas está a Decora, empresa que fornece cenários de decoração 3D para varejistas, como um caso de sucesso. Vendida para a empresa norte-americana Creative Drive (empresa que agora pertence à Accenture) em 2018, a tecnologia da empresa é hoje utilizada por alguns dos maiores varejistas do mundo, como Apple e Walmart. "O grande e complexo mercado brasileiro impulsiona os empreendedores a apresentarem soluções de classe mundial", disse Assunção.
Uma das barreiras para esse ecossistema brasileiro é nutrir talentos para atender às demandas do ecossistema. Apesar de ser o quarto maior estado do Brasil em termos de profissionais de tecnologia, Santa Catarina ainda enfrenta uma lacuna de qualificação. De acordo com a ACATE, o estado tinha 76,700 mil profissionais de tecnologia em 2022 e criou mais de 16,700 mil empregos nos últimos dois anos. Com a demanda prestes a crescer, mais de 10 mil vagas de emprego atuais precisam ser preenchidas.
Engelmann está otimista com iniciativas voltadas para o enfrentamento do problema, como parcerias com o sistema público de ensino para o rápido desenvolvimento de talentos. Refletindo sobre o potencial impacto de Santa Catarina nos ambientes nacionais de inovação, o executivo acredita que há muitas boas práticas para compartilhar em escala nacional. Ações colaborativas já estão em andamento com regiões como Ceará e Pará.
"Esperamos compartilhar com o Brasil os sucessos de Santa Catarina, onde grandes e pequenos convivem harmoniosamente, e jovens empreendedores aprendem com os experientes, e vice-versa. Queremos que nossa cultura de liderança e colaboração se torne referência para os ecossistemas em todo o país", observou Engelmann.
Outro desafio será desenvolver a capacidade de narrar e divulgar melhor suas histórias de sucesso, segundo Assunção, da Questum. "Embora o estado possa não ter histórias de sucesso gigantescas como o Vale do Silício, ele tem centenas de vitórias menores e significativas que merecem ser comemoradas", concluiu.
Fonte: Mari Angélica
Colaborador Sênior - FORBS
Jornalista de tecnologia e sociedade no Brasil