Mãos, joelho, cotovelo, boca, olhos… O montador de andaimes Adriano de Medeiros, 50 anos, desenvolveu vitiligo depois que perdeu a mãe aos 17,18 anos – foi praticamente um início de depressão. A mãe faleceu de câncer.
À época, consultou o médico dermatologista da empresa em que trabalhava – que o diagnosticou com vitiligo. “Quando ele falou aquilo para mim, foi um baque. A sensação era de que eu ia ficar branco já naquela semana”, relembra.
Saber que o vitiligo poderia aumentar foi deixando Adriano ansioso. Acabou que toda essa preocupação e ansiedade fez com que a doença se desenvolvesse ainda mais, aumentando as manchas. “De lá pra cá não parou mais… Eu sofria um arranhão ou me machucava, e aquilo se tornava uma mancha”, conta Adriano.
Ele tentou tratamentos logo que descobriu a doença. Tentou alguns medicamentos indicados, fez uma dieta especial, tratamentos fototerápicos, mas o resultado, segundo ele, não foi tão eficaz quanto pretendia.
“Muitas pessoas me olham e a primeira impressão delas é meio indecifrável. Fica meio ressabiado e muitas vezes ainda tento esconder… Coloco a mão no bolso, disfarço. Mas tenho tentado colocar na cabeça que isso é algo normal que pode acontecer e que tenho que viver a vida e me divertir”, ressalta.
1 – O que é e o que causa o vitiligo? É desenvolvido ou as pessoas nascem com ele?
O termo vitiligo vem da palavra latina vitulum, que significa "pequena mancha". É uma doença que acontece devido à perda da coloração da pele. As manchas brancas na pele formam-se por causa da diminuição ou ausência de melanócitos, que são as células responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que dá cor à pele.
As causas da doença não são esclarecidas totalmente, mas geralmente estão associadas a fenômenos autoimunes (quando o corpo ataca seus próprios tecidos), alterações e traumas emocionais – que podem desencadear ou agravar a doença.
2 – É hereditário?
O fator genético influencia. As pessoas nascem com uma tendência genética para ter a doença. Não é uma doença contagiosa, ou seja, não teria como você “pegar” vitiligo de alguém. Mas uma pessoa pode herdar geneticamente a propensão ao desenvolvimento de vitiligo e mesmo assim não manifestar a doença.
3 – A partir de que idade pode começar a se manifestar? A doença tem algo a ver com ser filho de pais brancos e pretos?
Não há uma idade definida sobre quando o vitiligo pode começar a se manifestar, mas boa parte dos casos acontece após os vinte anos de idade. E o vitiligo não tem relação com ser filhos de pais pretos e brancos.
4 – Há quanto tempo essa condição começou a ter uma explicação médica?
Existia muita confusão entre o vitiligo com a hanseníase (antes chamada de lepra). Em 1870, o cientista austríaco Moriz Kaposi observou pela primeira vez a falta de pigmento em células da pele; na mesma década Gerhard Hansen, médico norueguês, atestou que a hanseníase seria causada por uma bactéria. Estes avanços ajudaram a distinguir entre as duas condições.
5 – O vitiligo progride até o fim da vida? Uma pessoa pode chegar a mudar de cor completamente?
Cada caso é um caso. Certas pessoas possuem maiores áreas dessas manchas e locais diferentes de propagação. O vitiligo pode ser dividido em dois grupos: o localizado, que geralmente ataca uma única parte do corpo e o generalizado, que é quando as manchas são distribuídas pelo corpo. Nos dois casos pode haver tanto progressão quanto estabilização das manchas.
8 – Pessoas com vitiligo podem fazer tatuagem?
Antes de procurar um tatuador, a pessoa que tem vitiligo deve procurar o dermatologista. É ele quem dirá se a pessoa com vitiligo deve fazer ou não uma tatuagem: a pele da pessoa que tem a doença é mais sensível e pode reagir de diferentes formas. Dependendo do caso, a tatuagem pode acabar agravando o quadro da doença.
Diagnóstico
O vitiligo atinge entre 1 e 2% da população, no Brasil e no mundo, independente de sexo ou idade. O diagnóstico do vitiligo, em geral, é clínico. Sob uma luz ultravioleta, o paciente é observado, e nas regiões acometidas pela ausência de melanócitos se observa manchas de aspecto esbranquiçado. A biópsia de pele é indicada em poucos casos para o diagnóstico, geralmente quando há suspeita de que outra doença pode estar envolvida.
Trazendo o rei do pop à baila
No dia 25 de junho de 2011 comemorou- se pela primeira vez o Dia Mundial do Vitiligo – data escolhida por causa da morte do cantor Michael Jackson, que era portador da doença. No início de sua carreira, o cantor ficou eternizado no vídeo com sua pele negra e cabelos cacheados.
Mas a partir da década de 80, Michael começou a apresentar mudanças em sua aparência – o que começou a gerar boatos e teorias falsas. De acordo com uma biografia não oficial do rei do Pop, ele foi diagnosticado com vitiligo em 1986.
Após anos de especulações e acusações de que Michael estaria negando sua própria cor, a verdade veio à tona numa entrevista que o astro concedeu a Oprah Winfrey, em 1993. Ele revelou que clareava a pele com maquiagem para uniformizar os efeitos do vitiligo.
O dermatologista de Michael Arnold Klein afirmou numa entrevista a Larry King, que o vitiligo de Michael foi muito ruim e a decisão final de clarear as manchas não foi de Michael. “Michael era negro. Ele estava muito orgulhoso da herança negra dele. [...] Mas a [doença] dele se tornou tão grave, que a maneira mais fácil é usar cremes certos que farão as manchas escuras clarearem”, contou à época.
Tratamento
O fato de não se poder falar em cura para o vitiligo não significa que não existam várias opções terapêuticas. Os tratamentos do vitiligo têm como objetivo cessar o aumento das lesões e em alguns casos a repigmentação da pele. Existem alguns medicamentos que induzem à repigmentação das regiões afetadas.
A fototerapia com radiação ultravioleta também é indicada para quase todas as formas de vitiligo, principalmente para lesões da face e tronco. Também se pode empregar tecnologias como o laser, bem como técnicas cirúrgicas ou de transplante de melanócitos.
O tratamento do vitiligo é feito de acordo com a condição de cada paciente e os resultados podem variar de pessoa pra pessoa. E claro, sempre deve ser discutido com um dermatologista.