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Moradora do Quilombo da Aldeia, empresária de Garopaba forma e emprega mulheres pretas intérpretes de Libras

Publicada em 23/07/23 às 10:39h - 35 visualizações

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Moradora do Quilombo da Aldeia, empresária de Garopaba forma e emprega mulheres pretas intérpretes de Libras
 (Foto: REDE DE COMUNICAÇÃO SUL BRASIL )

Moradora do Quilombo da Aldeia, em Garopaba, a assistente social de formação e professora de educação quilombola, Jéssica Cardoso fundou a InterPrêta em 2021. A empresa é formada por mulheres negras que oferecem serviços de tradução e interpretação de Libras (Língua Brasileira de Sinais).

Seu primeiro contato com as Libras, embora breve, aconteceu durante a faculdade. Mais tarde, já formada e trabalhando como assistente social, em atendimento e apoio à uma família com uma criança surda, se aproximou da Libras. 

“A família dessa criança não sabia que ela era surda. Solicitei um encaminhamento à médicos e os cuidadores receberam um diagnóstico. Esse atendimento me mostrou que precisava me profissionalizar nessa língua”.

Jéssica acabou voltando para a academia e se especializou em letras com ênfase Libras, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Após frustrações no trabalho e com a chegada da maternidade, aos poucos, começou sua transição de carreira. 

“Queria ser assistente social, mas não conseguia garantir tudo o que as famílias precisavam. Isso me frustrava, não conseguia separar as coisas e levava esse sentimento para casa”.

A professora estava decidida a partir dali, seria intérprete de libras. Começou fazendo cobertura de eventos. Na época, trabalhava em período integral, o que reduzia seu tempo com a pequena Lara. Mesmo entusiasmada com a nova área, não deixou de notar as experiências racistas que vivenciou.

Há 10 anos, as pessoas me contratavam por telefone, sem saber quem iria traduzir no evento, quando eu chegava as pessoas me dispensavam

Jéssica relata que muitas vezes não se posicionava, nem rebatia as agressões. Ela precisava do dinheiro. As situações se acumularam ao engravidar pela segunda vez, da sua filha Zahara, algo mudou.

“Não dava mais para continuar no cenário que eu estava. É muito dolorido querer maternar e não poder”. Com o desejo de passar mais tempo com as filhas e empoderar mulheres negras com conhecimento, resolveu fundar o InterPrêta. “Pensei na possibilidade de empreender para sair desse lugar, além de trazer outras mulheres pretas intérpretes de libras ao lugar de valorização e qualificação”, lembra.

Com uma rede em constante crescimento, hoje o grupo reúne 80 mulheres em todo o país. A equipe é composta por tradutoras e intérpretes. “A InterPrêta nasce com o propósito de gerar trabalho e renda para as mulheres, levar acessibilidade para a comunidade surda e, principalmente, trazer debates raciais dentro. Todo mundo se diz acessível e diversos, mas na prática não é isso que acontece”, observa

A empreendedora acredita que essa foi uma oportunidade de proporcionar melhoria de vida e garantia de emprego para sua vida e para as mulheres como ela. Entretanto, a startup não é a principal fonte de renda de Jéssica. Enquanto educadora, depende de suas aulas e das consultorias para empresas. 

“Sonho em ter uma equipe e oferecer estabilidade [de emprego]. Quero ter um espaço físico, um local para atendimento, um estúdio para tradução virtual. Quero ter essas 80 mulheres juntas na InterPrêta, fazendo acontecer, mas tudo isso custa muito dinheiro”.

A barreira financeira não é um empecilho nos sonhos de Jéssica. InterPrêta é seu principal orgulho material.

Poder gerar renda para mulheres negras é maior satisfação da vida. Garantir um salário e saber que está pagando o que é justo

Além disso, a partir das formações com empresas, tem a possibilidade de impactar positivamente diferentes pessoas em suas “bolhas de privilégio”. Ela explica, “Esse Impacto faz parte do que a InterPrêta quer: que a comunidade surda também seja respeitada, se sinta pertencente e tenha acesso. Isso me impulsiona para não parar”.




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