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Discussão religiosa termina em confusão com spray de pimenta na capital

Homem diz não saber o motivo da abordagem policial após discussão religiosa em Florianópolis; mulher relata que sofreu intolerância religiosa

Publicada em 08/02/24 às 09:01h - 24 visualizações

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Discussão religiosa termina em confusão com spray de pimenta na capital
 (Foto: REDE DE COMUNICAÇÃO SUL BRASIL )

Uma discussão religiosa em frente ao Ticen (Terminal de Integração do Centro), no Centro de Florianópolis, terminou com uso de spray de pimenta e um celular apreendido por policiais na manhã desta terça-feira (6). Os envolvidos são uma mulher de 41 anos e um homem de 31, identificado como Ederson.

Discussão religiosa em Florianópolis

Segundo o relato da mulher, ela estava vestida com trajes candomblecistas, cumprindo preceitos religiosos, quando foi abordada por Ederson. De acordo com o que a vítima informou à polícia, ele se dirigiu a ela de maneira impositiva e intimidadora.

“Ele me deu um papel dizendo que eu deveria me arrepender e me render a Cristo”, relembra a mulher. “Agradeci o papel e rejeitei a oferta, deixando evidente que já tinha uma religião, mas que respeitava a todas e que Deus era um só”, continua.

Ela conta que a situação se tornou ainda mais tensa quando o homem passou a proferir ofensas direcionadas à sua religião. “Ele se irritou, dizendo que meu Deus era o diabo e que em minha religião cultuávamos demônios, como ‘pombas-giras’ e ‘Zé Pelintra’, que faziam as pessoas usarem drogas e bebidas, destruindo assim suas vidas e saúde”, desabafa a mulher.

“A partir dessa colocação, o homem se tornou ainda mais agressivo, projetando tanto a Bíblia quanto o corpo, vociferando sobre mim”, relata. “Comecei a ficar com medo, pois ele gritava muito e se aproximava ameaçadoramente”, completa.

A tensão aumentou quando a vítima alertou que começaria a filmar a situação, alegando que o homem estava cometendo um crime de intolerância religiosa.

“Isso o deixou ainda mais agressivo e furioso”, diz a mulher. “Ele gritava que ‘ninguém pararia a palavra de Deus’ e que seriam destruídos todos os demônios como eu”, continua.

“Eu me senti com medo e acuada, procurando ajuda próxima de comerciantes enquanto liguei para a polícia”, relata. “Enquanto isso, o homem vinha correndo na minha direção, quase me esbarrando e fazendo ameaças”, completa.

Durante o incidente, outras pessoas se juntaram em torno da vítima para protegê-la até a chegada da viatura policial.

“Fiquei impressionada com o atendimento humanizado da polícia militar”, comenta. “Acredito ter sofrido um crime de intolerância religiosa, contudo, com a presente questão de gênero, já que durante o acontecido ele foi em mais uma mulher de turbante e outra mulher com fio de contas”, conclui a mulher.

O spray de pimenta

Em um vídeo que circula nas redes sociais, o homem aparece dizendo:

“Estou aqui sendo autuado por alguma coisa, sendo que eu posso falar com voz alta, eu tenho documento. Estou aqui com dois soldados. Porém, estou aqui com outra senhora que diz que estou cometendo injúria racial. Eu quero fazer um boletim de ocorrência porque estou sendo indiciado por injúria religiosa”, diz.

Neste momento, o vídeo para e o homem recebe um jato de spray de pimenta no rosto e tem o celular é apreendido pelo policial. Segundo o boletim de ocorrência, além do spray de pimenta, foi dado um tapa no homem para que o celular fosse apreendido.

De acordo com o homem, ele teria licença para utilizar um microfone na área em frente ao Ticen, o que, segundo a Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente), não é verdade.

“A Floram informa que não há nenhum tipo de autorização expedida para as atividades do indivíduo”, disse em nota.

O que diz a Polícia Militar

Segundo o tenente-coronel André Rodrigo Serafin e comandante do 4° Batalhão da Polícia Militar de Santa Catarina, Ederson já tem passagens anteriores por agressão e intolerância religiosa.

“Cabe aqui informar que não é a primeira vez que ele age com intolerância religiosa. Ele já tem esse histórico. Em outubro do ano passado, por exemplo, a Guarda Municipal foi atender uma ocorrência que acabou migrando para desacato, desobediência e lesão corporal. Na época, ele foi encaminhado para o Instituto Psiquiátrico por conta da sua agressividade”, diz.

Em nota, o 4º Batalhão de Polícia Militar disse que, ao chegar para atender a ocorrência desta terça-feira, os agentes encontraram um atrito verbal entre um homem, que fazia pregação religiosa no local, e uma mulher, que passava por lá.

“O homem se encontrava muito alterado e com falas desconexas, realizando diversas injúrias contra a mulher, que se disse como candomblecista. No local a guarnição identificou que o homem já tinha um histórico de problemas da mesma origem no local e que populares que testemunhavam o fato relataram que ele sofre de transtornos psicológicos”, diz a nota.

A polícia diz que chegou a pedir para que Ederson tivesse calma, para que chegassem à resolução do problema, o que não ocorreu.

“Assim sendo, cabe ressaltar que o vídeo que circula na internet está editado e o ato do policial ao espirrar o spray no homem foi para acalmá-lo e cessar as injustas agressões verbais”, se defende a PM.

“Para finalizar, a devida ocorrência foi registrada na delegacia da Polícia Civil, por injúria religiosa. O homem não foi preso e responderá de acordo com as investigações devidas da ocorrência”, finaliza.

Em publicação no Instagram, o pregador fez um relato do acontecimento a partir de seu ponto de vista. Ele alega não ter utilizado violência e nem incitado intolerância: “Eu parei ela e falei ‘Jesus te ama, Deus te ama’. Ela parou para me ouvir e interagiu comigo.”

Ele afirma que já participou de religiões de matriz africana e ressalta que seu irmão é pai de santo: “Eu interajo com meu irmão como um membro da minha família.”

Em nota ao Grupo ND, sua equipe jurídica reiterou esse posicionamento e afirmou que Ederson foi acusado injustamente: “Esta acusação infundada escalou rapidamente, resultando em um cenário onde o Sr. Ederson foi injustamente retratado como agressor, ao ponto de ser submetido a uma abordagem policial desproporcional e prejudicial. A intervenção das autoridades, longe de mediar a situação com imparcialidade, culminou no uso de força excessiva — especificamente, a aplicação de spray de pimenta —, além da destruição de propriedade pessoal do Sr. Ederson, com a exclusão do vídeo e a danificação de seu aparelho celular.”

A defesa manifestou que busca “não apenas reivindicar a inocência do Sr. Ederson frente às acusações levianas e infundadas que lhe foram impostas, mas também ressaltar a importância do respeito à liberdade de expressão religiosa e à dignidade humana”.

*Via ND+




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