Pelo menos quatro vereadores retiraram o apoio à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal de São Paulo que quer investigar atuação de ONGs na assistência à população de rua da capital. Um dos alvos dos parlamentares é o padre Júlio Lancellotti, reconhecido pelo trabalho na Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese Metropolitana.
O requerimento, protocolado ainda em dezembro, pede a criação de uma CPI para fiscalizar o trabalho de ONGs que atuam na região da cracolândia. Assinado por 23 vereadores, o documento não cita o padre, mas o nome do coordenador da pastoral está no centro da discussão.
“Não entendo esse clamor todo essa revolta toda ao redor do padre Júlio Lancellotti. Se é uma CPI pra investigar a ONG, e se ele é uma figura tão ilibada como diz ser, ele se preocuparia em comparecer espontaneamente à CPI pra contribuir com as informações que ele tem sobre as ONGs”, afirma o vereador Rubinho Nunes (União), propositor da CPI.
O padre Júlio Lancellotti – que há 40 anos presta assistência aos mais vulneráveis – afirmou que o pedido é legítimo, mas que não faz parte de nenhuma ONG.
“Isso tudo são questões que devem ser verificadas, porque se eu recebo algum dinheiro público, de alguma ONG, vai ter que aparecer em algum lugar porque as ONGs são verificados pelo TCM, mas é importante saber como se dão as políticas públicas para os dependentes químicos, estou desde ontem tentando vaga de internamento para pessoas que estão solicitando, mas não estou conseguindo”, afirmou o padre.
A Arquidiocese de São Paulo se disse perplexa pelo pedido de investigação contra um membro da igreja reconhecido pelo apoio a pessoas pobres. Ao menos quatro parlamentares voltaram atrás e decidiram retirar a assinatura do requerimento. Um deles é Thammy Miranda.
“Já que estão usando esse projeto para atingir o padre Júlio Lancellotti, não tem o meu apoio, então vou pedir para minha assessoria jurídica a retirada do meu apoiamento, já que a intensão não era a cracolândia, era agredir o padre Júlio”.
Agora, segundo o regimento interno da Câmara de Vereadores, o requerimento precisa do apoio da maioria absoluta do plenário – pelo menos 28 parlamentares. Atualmente, três CPIs estão em atividade na Câmara. Outras 45 aguardam aprovação para que sejam instauradas, mas nenhuma delas é para fiscalizar o que o poder público tem feito pela população em situação de rua na cidade de São Paulo.
Em ano de disputa pela prefeitura municipal, a situação das pessoas em situação de rua na capital paulista certamente será tema de debate entre os candidatos. Segundo números do Ministério dos Direitos Humanos, são 55 mil pessoas morando nas ruas. O número é maior do que a população de 89% dos municípios brasileiros.